quarta-feira, outubro 30, 2019


Linha do Tempo

História da Cooperativa Acácia

Se há 18 anos perguntássemos para qualquer araraquarense morador dos bairros centrais o que havia atrás do Parque Ecológico Pinheirinho, muitos diriam: nada. No imaginário popular a cidade acabava no referido parque e nada nem ninguém existia neste lugar.
Atualmente, em 2019, podemos afirmar que durante todos esses anos algo nasceu e floresceu atrás do Pinheirinho; e lá existe vida e muito trabalho, pois lá hoje se encontra uma flor:  Acácia cooperativa de catadores de materiais recicláveis.
A Coop. Acácia é atualmente formada por 190 catadores, dos quais 85% são mulheres que encontraram uma forma digna de trabalho e de renda no processo de reciclagem. Atualmente, oferecendo o serviço de coleta seletiva a 98% da população de Araraquara, a Cooperativa Acácia coleta e recicla por volta de 480 toneladas de material por mês. Com o seu trabalho, a Acácia contribui para que centenas de árvores sejam preservadas, milhares de litros de água se mantenham limpos, e que uma quantidade enorme de oxigênio se mantenha puro e que as reservas naturais sejam preservadas.

Linha do Tempo da Cooperativa Acácia
1997 – Catadores do antigo lixão começam a se mobilizarem com o objetivo de formar uma associação, pois a atividade no aterro sanitário estava proibida.
2001 – Com o apoio do poder público local, o grupo de catadores que se organizaram no antigo lixão saem do aterro sanitário e se transferem para a Central de Triagem e Compostagem. Assim surgindo a Associação Acácia de Catadores, garantindo seu trabalho, sua renda e sua dignidade.
2003 – O processo de incubação realizado pela secretaria de Desenvolvimento Econômico passa a contar com o apoio da Secretaria da Saúde e Inclusão Social. Assoc. Acácia inicia a coleta seletiva no município em parceria com um grupo de catadores existente no eco ponto no bairro do Carmo, com veículo emprestado.
2004/2005 – Em 2004, a Associação Acácia e a usina Zanin acordam uma parceria e a coleta seletiva passa a ser realizada com um veículo da usina; finalmente em 2005, o município fecha uma parceria com a FECOP (Fundo Estatual de Prevenção e Controle da Poluição) e consegue recursos para a compra de um caminhão apropriado para coleta seletiva; 


2006 – A Associação passa a ser Cooperativa de trabalho Acácia de Catadores, Coleta, Triagem e Beneficiamento de Materiais Recicláveis de Araraquara; Aprovação da Lei Municipal 6.496 que autoriza o município a celebrar convênio com objetivo de desenvolver projetos e ações relacionados à coleta, triagem e o beneficiamento dos materiais recicláveis;  Lançamentos da Coleta Seletiva no município de Araraquara através da parceria entre a Prefeitura Municipal de Araraquara, o DAAE (Departamento de água e esgoto) – responsável pela política de resíduos sólidos do município – e a Cooperativa Acácia. Nesse primeiro momento, com um total de 64 catadores, a Cooperativa Acácia realizava a coleta seletiva em 25% da cidade de Araraquara;
2007 – Aprovação de projeto que resultou no financiamento de recursos não reembolsável de R$ 269.370,00 junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para investimentos na cooperativa; expansão da Coleta Seletiva em 100% da cidade e Bueno de Andrada;

2008 – Assinatura da primeira versão do Contrato nº 1643 de prestação de serviço entre a Cooperativa Acácia, Prefeitura e o DAAE através da lei Federal N° 8.666/93 “dispensa de licitação, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse momento, a Acácia era composta por 96 catadores; assinatura de convênio com empresa que opera o transporte público no município (CTA), controlada pela prefeitura, que subsidia parte do transporte dos catadores cooperados; incorporação a cooperativa de mais 40 catadores em situação de lixão ao quadro social da Cooperativa;

2010 – Assinatura de convênio com a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde), o que possibilitou aquisição de uma prensa horizontal para prensagem de papelão e um veículo tipo furgão; A cooperativa sofreu um assalto no dia 24/05/2010 por volta das 16:00 horas em nossa sede, comprometendo o adiantamento do mês aos cooperados.

2011 – Aprovação da lei municipal 7.422 que permitiu a doação de um terreno de 2.501, 64 m² para a Cooperativa Acácia; ocorre um incêndio na sede da Cooperativa comprometendo parte da sua estrutura física e maquinários, o que dificultou o trabalho e a renda dos cooperados.

2012 – Cessão em regime de comodato da área ocupada pela Cooperativa por 20 anos; assinatura da segunda versão do Contrato nº 2015 de prestação de serviço entre Cooperativa e DAAE, onde a cooperativa deixou de repassar 20% das vendas para DAAE, assumindo total manutenção dos equipamentos. E começa receber o bônus por metas total atingidas; Vinda da máquina de processamento do EPS (isopor) em forma de comodato em parceria com a empresa MEIWA. A Cooperativa Acácia passa a ser o único ponto capaz de reciclar o isopor no interior paulista; ocorre a exposição “Flores de Acácia”, com fotos feitas por alunos do curso de Administração Pública da Unesp Araraquara. Essas fotos mostram o cotidiano dos cooperados da Acácia; cooperados da Acácia conclui o curso “5S” em parceria com o Senai Araraquara; alunos do Senai Araraquara constroem e doam uma máquina de furar pet para Cooperativa Acácia, o que auxilia na agilidade da produção; a Cooperativa Acácia lança o seu próprio SITE, desenvolvido pelo aluno Jorge Henrique Oliveira do curso de Administração pública a partir de convênio de estágio firmado com o Departamento de Administração Pública da UNESP de Araraquara. Por meio do site, a Cooperativa lança o selo “EU PARTICIPO” com intuito de estimular e reconhecer os munícipes que participa do programa Coleta Seletiva Solidaria;

2013 – Aprovação da Lei Municipal 7.564 que concede a Cooperativa Acácia o título de Utilidade Pública Municipal;

2014 –Houve a queda da cobertura na área do pátio de descarregamento de material reciclável, devido ao incêndio ocorrido em 2011. Início das obras de ampliação da planta produtiva da Cooperativa com recursos oriundos da premiação do Programa Município Verde e Azul do Estado de São Paulo; assinatura do Convênio com a ABIHPEC que possibilitou a construção da cobertura do pátio de chegada de materiais; recebimento de recursos da Fundação Banco do Brasil, o que possibilitou a cooperativa a compra de uma prensa horizontal de material ferroso e de uma picotadora de papel de alta produção.

2015 – Gradativamente a cooperativa foi ampliando e melhorando a estrutura da Central de Triagem. Ao mesmo tempo, a prefeitura foi renovando os contratos (anual) com a cooperativa; início da divulgação da coleta seletiva em toda cidade de Araraquara com distribuição de ímãs de geladeira e panfletos em parceria com ABIHPEC; realização Oficina de Mediação de Conflitos, Processo Circular e Cultura de Paz, ministrada pela catadora Luzia Maria Honorato.

2016 – A Cooperativa Acácia funda com outras 7 cooperativas a Rede Anastácia – Central de Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis da Região Central e Alta Mogiana Paulista. Realização do Curso Cuidando do Futuro em parceria com a Tetra Pak; instalação de quadro de distribuição de energia no valor de R$ 22.000,00 em parceria com o Nestlé – CEMPRE;

2017 – Composta por cooperativas da região de Araraquara e Ribeirão Preto, a Rede Anastácia de Catadores foi contemplada para participar do programa CATAFORTE III. O programa Cataforte tem o objetivo de destinar recursos para a estruturação de cooperativas e associações possibilitando que estes empreendimentos solidários se tornem aptos a prestar serviços de coleta seletiva para prefeituras, a participar no mercado de logística reversa e a realizar conjuntamente a comercialização e o beneficiamento de produtos recicláveis; Araraquara sediou o sétimo Encontro Regional da Coleta Seletiva Solidária realizado pela Rede Anastácia; renovação do Convênio com a ABIHPEC que possibilitou aquisição de dois caminhões, um trator equipado com pá carregadeira e a cobertura de um novo pátio de 440m²; recebimento de recursos da Fundação Banco do Brasil para construção de um pátio de 440m².

2018 - Assinatura da terceira versão do Contrato nº 019/2018 de prestação de serviço com ampliação do serviço oferecido nos PEVs e LEVs, com caminhões próprios. A cooperativa Acácia passa a receber o bônus proporcional referente as metas; realização do Curso EU SEI pelo SEBRAE Araraquara em parceria com a Economia Solidaria; realização do Curso AUDIOVISUAL em parceria com IFSP Araraquara; aprovação da Lei Municipal que institui o dia 12 de novembro o “Dia Municipal do Catador de materiais recicláveis”; a Cooperativa recebe 40 carrinhos em forma de doação pelo Rotary Club Araraquara Morada do Sol, em parceria com o Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil), a Unimed e o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

2019 – Finalizando a 2° versão da parceria com a ABIHPEC foi feito a ampliação da cobertura do pátio de recebimento dos materiais recicláveis. Prosseguindo com o seu processo de evolução a Coop. Acácia assina a 3° versão de contrato com a ABIHPEC. No mês de outubro em parceria com a Tetra Pak, a coop. Acácia recebeu equipamentos para linha de produção (1 empilhadeira elétrica manual, 1 paleteira manual, 1 esteira de triagem e 1 balança digital);


Agradecemos a todos os envolvidos nesse processo de construção, em especial a todos os moradores desta cidade.


COLETAAAAAA... O grito que deu certo.








Segue a história...
***Flores da Acácia ***
Do sol que irradia ao longe,
acordando para o dia,
o café quente cheirando no fogão
são 5 horas, hora de começar o dia.
a caminhada ao horizonte
te gorjeia de sentimentos
entre sonhos e realidade
o chorume da cidade.
seleciona bonecas, roupas, fraldas,
Fragmentado entre infâncias e idade avançada
o Chapéu tentando proteger do sol
a ruga rasga na pele
a unha quebra na esteira
quebra o sonho e seleciona mais um kilo de plástico.
mais uma peça de roupa, semi nova
leva para a filha.
o lixo da cidade vai construindo guarda roupas, brinquedotecas, bibliotecas.
o lixo dos outros, a oportunidade do brinquedo de Natal
Tantas Acacias,
Tantas Rosas,
Tantas margaridas,
Vão sorrindo e floreando o dia.
do lixo da cidade
Vão tateando, coletando, selecionando
Lixo Bom e Lixo Ruim.
E vão construindo castelos de areia,
castelos de jardins,
castelos de princesas.
E saem por ai..cultivando flores, vão amando a cidade,
mas no silêncio da cidade, as Acácias vão desabrochando, florindo a cidade com cores e amores tão diversos. 

autoria: Fabiana Virgílio



A construção de um sonho

“AVES DE FOGO”[1]


DO CÉU VEIO O RAIO
QUE DESTRUI O PARAÍSO
DO CHÃO RENASCEU A VIDA
QUE NO FOGO ARDIA
 FÚRIAS E DESATINOS
A CHAMA A QUEIMAR O SUOR DO DIA
 OLHOS PERPLEXOS
BERROS A ROLAR
SÃO OS ESTALOS DE AGONIA
O CHEIRO DA LIDA A ESFARELAR
 VEJO UMA LUZ
UMA BRASA A QUEIMAR
É O SUSPIRO DA VIDA
A CHANCE DE VOLTAR
O MOMENTO DE ENXERGAR
QUE:
 TODOS SOMOS UM
TODOS DEVEM CAMINHAR
 LÁGRIMAS ACONTECERAM
BOCAS A SOLUÇAR
NESTA VIDA TEMOS QUE LUTAR
 VAMOS NOSSA GENTE!
TEMOS QUE NOS LEVANTAR
 DANDO AS MÃOS
OLHANDO PARA FRENTE
CABEÇAS LÚCIDAS
PÉS NO CHÃO

E A TODOS UM SÓ CORAÇÃO.

O Ecoponto do Carmo é um projeto idealizado e iniciado na administração do prefeito Edinho- PT, no ano de 2002, no bairro do Carmo em Araraquara, situado próximo ao centro da cidade.
            O objetivo do projeto era criar um ponto de recepção de materiais recicláveis no próprio bairro, e também reunir os catadores da região para trabalharem na coleta seletiva na área de abrangência proposto. Inicialmente eram 6 pessoas, que se reuniram informalmente e criaram a Associação Cidade Limpa, eles saiam com seu bags pelas ruas do bairro para recolherem o material da população, e depois revendiam aos atravessadores locais.
            No começo do projeto a situação de trabalho era muito precário, não havia apoio da sociedade civil, de empresas locais, e do poder público. Com o tempo o material coletado foi se acumulado, trazendo problemas para os próprios catadores e a população vizinha, pois a presença de ratos e insetos era constante. Em meados do ano de 2002, foi disponibilizado por uma Usina da região uma caminhonete, com motorista e o abastecimento diário incluído, isto possibilitou que o montante de material recolhido aumentasse, no entanto, mais material foi se acumulando no terreno da Associação
            Mais pessoas foram sendo associadas para tentar diminuir a quantidade de lixo acumulado, estavam em catorze pessoas, mas mesmo assim não conseguiam criar um processo de trabalho capaz de solucionar o problema, o ganho mensal eram muito baixo, pelo tanto de material que possuíam, existia também o desvio de material pelos próprios catadores, principalmente o cobre e o alumínio, que possuem o valor do Kg maior que os outros materiais.
            Em 2003, depois de muitas tentativas de organização do pessoal, a Secretária Municipal de Desenvolvimento Econômico, interveio, devido às várias denúncias de irregularidades dos próprios catadores, e da vizinhança. Segundo o secretário do desenvolvimento econômico de Araraquara Paulo Sérgio Sgobbi, a atitude da Prefeitura em intervir era que o projeto deveria se auto-gerir, portanto, era preciso resgatar os princípios para qual foi idealizado.
            Durante 2 meses, eu como assistente e sociólogo da Secretaria, trabalhei durante todo o expediente para administrar junto aos catadores o local, e tentar criar um mínimo de processo de trabalho que inexistia, assim como o conhecimento dos princípios autogestonários. Era responsável por auxiliar no resgate e na padronização das rotinas de trabalho, fiquei responsável pela abertura e fechamento do barracão, anotava tudo o que era recolhido de material na rua, o que era vendido, e o quanto eram revertidos em dinheiro, no final do dia, informava a todos os trabalhadores sobre a produção. A coordenação do Ecoponto neste período ficou a cargo de duas associadas, escolhidas em eleição da qual participaram 13 trabalhadores.
Muitos cooperados ficavam bêbados e utilizam entorpecentes no local de trabalho, aos poucos isso foi acabando, assim como os desvios de materiais. Alguns cooperados sabiam onde eu morava e apareciam de manhã, à tarde ou à noite pedir algum conselho e dinheiro, era uma situação muito complicada.
            Aves de Fogo surgiu de um poema que fiz no dia que entrei no Ecoponto e ele estava em cinzas, foi no final de novembro de 2003, após um mês de recolhimento, separação, e armazenamento, houve um incêndio misterioso, o local já estava fechado, já era noite. Muitos associados acham que pode ter sido algum catador que havia sido expulso da Associação devido à comprovação de desvio de material, ou por usuários de drogas que segundo vizinhos, utilizam o local para usar e traficar entorpecentes. Depois daquele dia, olhando nos olhos de cada um achei que os cooperados iriam desistir do projeto, mas ocorreu o contrário, eles se uniram ainda mais.
            Foi um período de muita experiência e desafios enfrentados, mas que com a intervenção e por tudo que passaram, eles puderam aprender que com o trabalho conjunto o resultado final é sempre melhor que o individual. E isso foi muito importante para o desenvolvimento do Ecoponto, da Acácia e da coleta seletiva na cidade.

 Para  onde seguir?

No ano de 2004, começou com outra perspectiva em suas vidas, devido ao projeto de implantação da coleta seletiva solidária na cidade de Araraquara, o grupo de catadores da acácia, formada por 52 pessoas que ficavam na usina de lixo triando o material reciclável e o grupo do ecoponto do carmo que ficava andando pelo bairro recolhendo material porta a porta, se uniram dando origem ao primerio grupo de coleta seletiva na cidade denominado Cooperativa de catadores de materiais recicláveis Acácia. Conseguiram abranger cerca de 25% da cidade. Esta união foi muito positiva, conseguiram formalizar a cooperativa na junta comercial, redigiram o estatuto e o regimento interno, estabeleceram convênios com a prefeitura e com o departamento de água e esgoto da cidade, e por fim conseguiram recursos do Bndes.
Foi uma mudança muito grande para o pequeno grupo de trabalhadores do carmo, tanto no trabalho como em suas vidas, ressurgiram como a fênix, literalmente das cinzas, para ocuparem seus espaços nesta sociedade tão desigual e desumana.



[1] Este poema foi escrito por mim e dedicado a todas as pessoas da Associação Cidade Limpa, ecoponto do Carmo, após o incêndio ocorrido em dezembro de 2003, no barracão. Um incêndio nunca explicado que destruiu toda a produção mensal, de recolhimento e separação do lixo, deixando em cinzas os sonhos de todos  aquelas pessoas, mas que com o tempo foram se levantando e construindo um novo sonho- tornar-se uma cooperativa.

Paulo Albano Filho